Corrupção nos pedágios deixou rastro de sangue e morte, diz Deltan Dallagnol

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou, nesta segunda-feira (28), o ex-governador Beto Richa e outras 32 pessoas por envolvimento em um suposto esquema de corrupção nas concessões dos pedágios paranaenses. O prejuízo do superfaturamento das tarifas de pedágio do Anel da Integração e da supressão de obras – apenas 25% foram concluídas – é de aproximadamente R$ 8,4 bilhões em valores atualizados.
O procurador do MPF, Deltan Dallagnol, explicou que o esquema existe desde 1999, e que apenas um dos braços do esquema foi responsável pelo pagamento de pelo menos R$ 35 milhões em propinas, em valores não atualizados. “Como resultado deste esquema, as tarifas dos pedágios foram elevadas de modo significativo, enquanto as obras foram reduzidas. Pelo menos 35% das obras contratadas e devidas foram feitas”, disse.
Entre os denunciados – separados entre agentes públicos e núcleo empresarial – está também José Richa Filho, irmão do ex-governador e ex-secretário de Infraestrutura e Logística do Estado, acusado de comandar a organização criminosa ao lado do irmão, além de ex-presidentes das seis concessionárias que administram o Anel da Integração - acusados por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. O ex-governador, por sua vez, foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Porém, para Dallagnol, o prejuízo vai muito além do financeiro, e se estende por “toda cadeia produtiva do Estado, que deixou de se valer de infraestrutura adequada”. De acordo com o procurador, o Paraná conta com estradas muito piores do que era possível ter. “Além disso, a corrupção nos pedágios deixou um rastro de sangue e morte nas rodovias do Paraná. Nós identificamos que o número de mortes quando a rodovia é duplicada cai drasticamente, e nós estamos tratando de 772 quilômetros de rodovias que deveriam ter sido duplicadas e não foram”, destacou.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontaram, ainda, que nos últimos cinco anos, 403 mortes foram registradas em trechos rodoviários federais no Paraná. “São trechos que estão em pistas simples, e a grande maioria destas mortes poderia ter sido evitada. Falta de fiscalização, ética e de justiça efetiva tem gerado um ambiente favorável a muitas mortes no Brasil. Parecem acidentes, mas não são”, concluiu.
A defesa dos envolvidos foi procurada e a reportagem ainda não recebeu um retorno.

Atualização

Em nota, o Grupo CCR, responsável pela CCR RodoNorte, informou que "tem contribuído com as autoridades públicas a fim de esclarecer fatos que envolvam a Companhia e suas controladas, além de promover ajustes na gestão da política de Governança e de Compliance". O grupo afirmou, ainda, que "em 21 anos de concessão, a CCR RodoNorte já investiu mais de R$ 3,25 bilhões em obras de melhorias, manutenção e ampliação".
Já as  concessionárias Rodovia das Cataratas S/A - Ecocataratas e Concessionária Ecovia Caminho do Mar S/A afirmaram, também em nota, que "todos os atos administrativos e Termos Aditivos formados pelas empresas e o Poder Concedente no período de 2003 a 2017 foram baseados em estudos técnicos e amplo procedimento administrativo". Ambas destacaram, ainda, que "mediante os Termos Aditivos foram incluídos diversos investimentos aos trechos sob concessão das duas empresas, que culminaram com a ampliação da capacidade das rodovias", e que estão à disposição das autoridades.
Por meio de nota, a defesa do ex-governador, Beto Richa, e do ex-secretário, Pepe Richa, informou que a Justiça ainda não deu à defesa acesso à denúncia e que seu cliente "não cometeu nenhuma irregularidade, e que sempre esteve à disposição para prestar esclarecimentos”.
Caminhos do Paraná afirmou, por nota, que não teve acesso ao teor da denúncia. "A empresa reafirma que sempre atuou dentro da mais estrita legalidade e permanece à disposição da Justiça para eventuais esclarecimentos".

fonte massa news 

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