Comunidade do Xarquinho não quer mais carregar o título de bairro mais violento de Guarapuava


Estigma. Substantivo masculino que, segundo os dicionários, significa cicatriz deixada por ferida. Os gregos criaram esse termo para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar algo extraordinário ou mau sobre o status de quem os apresentava. Em tempos medievais era um sinal infamante aplicado com ferro em brasa, nos ombros ou braços de criminosos. Ou seja, uma marca que ficaria na pele do indivíduo pra sempre. E pra sempre é muito tempo. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. O estigma pode ser definido como um atributo que lança um descrédito profundo.
Essa questão – delicada – surge do não-acolhimento das expectativas de determinado grupo social e das diferenças com relação aos padrões estabelecidos. Estigmas chamados ‘sociais’ levam à marginalização. Igualmente, a criminalidade carrega um forte estigma social. Para entendermos esses conceitos (ou pré-conceitos), vamos trazer isso pra uma realidade próxima da gente. Guarapuava, por exemplo. Xarquinho, pra ser mais exato. Um dos bairros mais populosos desse município e que carrega o estigma de ser um dos locais mais violentos da cidade. Sim, a verdade é que a violência, infelizmente, é a grande protagonista no Bairro Xarquinho há décadas. Não deveria ser, mas é. Apesar desses estigmas enfraquecerem com o tempo, eles permanecem ativos até que um grande choque cultural os derrube. Ações sociais, mais do que ações políticas, são essenciais para que se alcance algum êxito.
SOLUÇÕES
A Secretaria de Assistência Social em parceria com o 26º G.A.C. e outras entidades, vai lançar aqui em Guarapuava o projeto “Forte sem Violência”. Esse projeto foi idealizado por Mathias Kaps, um pedagogo alemão que não se conformava com a crescente onda de violência entre os jovens daquele país. A partir dessa realidade, ele sentiu a necessidade de criar um projeto que fosse de encontro com a realidade dos jovens. Era preciso fazer com que eles descobrissem suas capacidades e seus talentos para aprenderem a se valorizar e se sentirem fortes. Sem violência.
Em 2004, Mathias Kaps deu início ao projeto juntamente com a banda italiana Gen Rosso, surgida em 1966 e que se propõe a disseminar mensagens de fraternidade e paz, abordando temas como racismo, tráfico de armas, as grandes migrações, dentre outros. Antes de começar com os jovens, é desenvolvida uma formação com quem trabalha diretamente com eles. Durante uma semana, os jovens e os artistas do Gen Rosso começam a preparar um espetáculo. São dois dias de workshop em que cada jovem escolhe a área que mais se identifica: dança, teatro, música e até produção técnica. Depois de construídas todas essas etapas, os jovens se apresentam, no palco, junto com a banda.
E para dar o pontapé inicial em mais uma tentativa de transformar a realidade dessa juventude no bairro Xarquinho, a Banda Gen Rosso está em Guarapuava desde o último domingo (25) para dois shows no Ginásio de Esportes Joaquim Prestes. Na sexta (30) o espetáculo será para os alunos das redes municipal e estadual de ensino e, para a apresentação do sábado (31), todos estão convidados e os convites são gratuitos. Dessa vez, 220 jovens da comunidade participarão do musical “Streetlight”. A banda esteve numa coletiva na manhã desta terça (27), ao lado da secretária de Assistência Social de Guarapuava, Dra. Eliane de Carli e do capitão Paulino Francisco Lorenzo Junior, assessor de imprensa do 26º G.A.C. “Precisamos mudar a cultura de exclusão. As comunidades devem ter a possibilidade de mostrar o que tem de melhor, de incentivar as boas práticas através da educação, da música, dos esportes”, salientou Eliane de Carli.
E DEPOIS?
O projeto “Forte sem Violência”, que começa no Xarquinho, será realizado durante um ano e também vai trabalhar com os jovens do Bairro Primavera, além dos distritos de Entre Rios e Palmeirinha, que integram o SCFV (Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos). Não só os jovens estarão envolvidos, mas os familiares igualmente.
Não é uma tarefa fácil essa, já que várias tentativas foram feitas em outros governos. Já outras estavam dando certo, mas por questões que não ficaram explícitas acabaram não sendo continuadas por outros gestores. Quando o show da banda Gen Rosso acabar, eles fazem as malas e vão embora. São as duas últimas apresentações em solo brasileiro. O que vai ficar para esses jovens dessa comunidade tão violenta? Mais uma possibilidade de escolha. Eles podem continuar a ser fortes, tirando o estigma da violência de cena e passando a ser protagonistas de suas próprias histórias. E com certeza, cada uma dessas histórias terá um final feliz.


Fonte:RedeSul